Pesquisar este blog

terça-feira, 22 de novembro de 2011

"Vim para cá de bom humor e, agora, quero morrer", diz Perry Farrell

reportagem da folha sp
Tudo bem, Perry Farrell? "Estou OK. Acordei hoje de manhã com alguns comentários muito agressivos no Twitter", foi a resposta do músico e criador do festival Lollapalooza à Folha, nesta terça-feira. Farrell entrou em contato com a reportagem para esclarecer comentários que havia feito em reportagem publicada na edição de hoje na Folha.
Farrell se diz chateado com as mensagens que recebeu de fãs no Twitter. "Estou tentando fazer uma coisa boa ao trazer a música internacional para o Brasil, para que ela possa se alinhar e se misturar à música brasileira. Eu pensei que estava prestando um serviço a vocês. E isso está se tornando uma grande dor de cabeça", afirma.
O músico alega que não soube se expressar ao afirmar que, no Brasil, "não há tanta educação musical". O músico diz que se referia a um "sonho" seu em que a música seria incentivada no mundo todo pelo sistema educacional, como é feito com os esportes nos Estados Unidos. "Eu não sei como as escolas ou as faculdades daqui tratam os músicos, estou presumindo que não há profissionalização", diz.
Ele comentou ainda os problemas ocorridos no site do festival durante a madrugada para quem tentava comprar ingressos. "Dois milhões de pessoas estavam tentando comprar ingresso para o festival. E aí mais gente começou a me mandar mensagens no Twitter, tão bravos... Dizendo: 'Você sabe o que está fazendo? Você não sabe nada!'. Os sites estavam funcionando, mas ninguém previu que 2 milhões de pessoas iam tentar entrar no site", explica.
"Eu venho aqui de bom humor e agora minha cabeça está girando. Eu vim para cá mesmo sendo Dia de Ação de Graças nos EUA, eu realmente queria estar aqui para o anúncio do line-up, e agora eu sinto como... como se eu quisesse morrer", diz o músico.
Farrell comentou ainda sobre as acusações de Lobão contra o festival. O brasileiro afirma que a organização do festival não está respeitando os músicos nacionais. "Eu falaria com ele, mas não quero que ele venha gritar comigo."
Leia abaixo a íntegra da entrevista.
Folha - Oi, Perry, como você está?
Perry Farrell - Estou OK. Acordei hoje de manhã com alguns comentários muito agressivos no Twitter. As pessoas estavam me dizendo que eu não sei o que estou falando sobre o Brasil e que vocês não têm educação musical. Eu não sabia exatamente sobre o que eles estavam falando, então chequei com o pessoal e me disseram que veio de uma reportagem que você escreveu. E eu talvez não tenha me explicado muito bem.
OK, estou ouvindo.
Eu tenho um sonho de longo prazo. Eu não sei se te falei isso, mas provavelmente sim. Eu quero tornar o mundo da música mais como o do esporte e o do entretenimento. No esporte, as pessoas são apoiadas desde muito cedo nas escolas, então, eles começam a praticar esportes ainda muito novos. Há clubes e ligas, e quando você vai ao colegial, há times de futebol americano, beisebol... E, quando você vai à faculdade, também. Mas não há nada disso com a música. Era sobre isso que eu estava falando. Eu gostaria de poder apoiar os músicos desde muito cedo nas escolas. Eu não estava dizendo que os brasileiros não são musicalmente educados. Acho que foi isso que as pessoas pensaram que eu falei. Eu não sei como as escolas ou as faculdades daqui tratam os músicos, estou presumindo que não há profissionalização. Não há, com a música, a mesma organização que há com esportes. Eu gostaria de criar uma associação ou uma liga para músicos, que seria global, para apoiar as pessoas ainda na escola. A diferença do futebol e da música é que, com a música, você pode viajar o mundo todo. A música é uma língua universal e pode te levar a qualquer lugar do mundo. Eu não quero que as pessoas achem que eu estava dizendo que vocês não eram musicalmente educados. Tinha muita gente no Twitter dizendo: 'como você ousa dizer que nós não somos musicalmente educados?'.
Você também disse que ficou chocado quando percebeu que o Chile ainda não havia visto shows de algumas bandas...
Sim. Mas isso é diferente. Eles nunca tinham visto um show do The Cure ou do Jane's Addiction. Mas quanto ao Brasil, realmente, eu não tenho a menor ideia quem vocês já viram ou não. A primeira razão pela qual escolhemos o Brasil foi para ajudar a custear o festival no Chile. Era tão caro trazer bandas para o Chile, porque as bandas pediam tanto dinheiro para um show só, que nós decidimos fazer em outro lugar também. Vamos levar o Lollapalooza para outros lugares. E o Brasil foi o primeiro lugar que pensamos.
E o que você acha da música brasileira?
Bom, eu estou a conhecendo agora. Eu já ouvi algumas bandas dos anos 1980 e minha favorita agora é O Rappa. É o que eu disse. Esse cara fala para o povo. Eu vi alguns vídeos deles em que eles estão em programas de TV e usam uns instrumentos muito estranhos. Esse é o grupo que eu gosto agora.
Você conhece samba e bossa nova?
Claro.
Quais artistas?
De samba e bossa nova? Não sei... É... Gilberto... João Gilberto? Bom, eu não sou um especialista em bossa nova. Eu preciso ser?
Ontem, Lobão me disse que adoraria encontrar você para conversar. Você toparia?
Não. Olha... Eu falaria com ele, mas eis o problema. Eu vou acabar tendo que falar com ele, de qualquer forma. Eu não sei se te disse isso, mas minha reposta sobre essa situação é: eu já estive em situações parecidas e eu sei o quanto dói quando te oferecem uma posição e você acha que merece uma melhor. Eu sei que ele está muito chateado agora, e ele já expressou a raiva dele. Eu passei pela mesma situação quando tive de falar com meus sócios para conseguir posições melhores para outros artistas no Lollapalooza e também já me disseram que eu não merecia uma posição melhor, como no Coachella. Quando eu toquei em São Paulo, eu também estava numa posição que achava que não merecia [o Jane's Addiction tocou no Maquinária Festival no ano passado, às 20h30, abaixo apenas do Faith No More]. Então sei que ele está muito emotivo agora. E acho que eu não gostaria de falar com ele agora, porque ele está muito franco sobre o assunto no momento. Ele irritou meus companheiros aqui da Geo [Eventos, produtora do festival Lollapalooza no Brasil]. Eles iam oferecer um lugar melhor para ele, mas daí ele surgiu com esse vídeo e os irritou. Então... Eu não conheço esse cara, eu só estou lidando com as pessoas da Geo. Eu não quero estar entre eles. O que eles disseram foi que ofereceriam um lugar melhor para ele no ano que vem. Eu acho que eu vou falar com ele, mas não quero que ele venha gritar comigo. Eu estou aceitando as opiniões dos meus sócios que moram aqui sobre o lugar a que esse cara pertence. Eu já disse e vou repetir. Eu não conheço a música brasileira como o pessoal da Geo conhece. Estou aprendendo sobre ela e estou dizendo isso. Não estou dizendo que sou um expert em música brasileira. Estou tentando fazer uma coisa boa ao trazer a música internacional para o Brasil para que ela possa se alinhar e se misturar à música brasileira. E é isso o que eu estou fazendo. Eu pensei que estava prestando um serviço a vocês. E isso está se tornando uma grande dor de cabeça.
Quando eu fui reclamar com o idealizador do Coachella que eu queria um lugar melhor, ele gritou comigo e me disse que havia mais 50 outras bandas querendo um lugar melhor e era ali que eu iria ficar. Vou dar um exemplo melhor: Billy Idol. Quando você pensa nele, você pensa nele como uma grande estrela dos anos 1980. Quando ele tocou no Lollapalooza, ele tocou às 16h. Não estamos fazendo isso para punir Billy Idol. Minha mulher me perguntou por que ele tocaria naquela hora e eu disse: 'Porque o Billy Idol, hoje, para os jovens que vem hoje ao Lollapalooza... Quer dizer, eles já ouviram falar do Billy Idol, eles não necessariamente seguem Billy Idol, podem não amá-lo. Você ama, porque lembra dele dos anos 1980'. Nós queríamos que as pessoas vissem o Billy Idol, obviamente, é por isso que marcamos ele. Mas não estamos tentando puní-lo. Mas certamente não podemos colocá-lo como headliner, porque os jovens vão falar: 'Billy Idol? O que é isso?' Essa é a realidade. Eu não quero magoá-lo. Eu também sou músico e sou sensível a isso. Eu posso tentar lutar contra isso gravando coisas novas. Se ele [Lobão] quiser, ele pode tentar gravar coisas novas. Mas, agora, ele é um cara que há 20 anos fazia músicas ótimas. E é óbvio que a Geo o reconhece e quer ele no festival, mas isso machucou o ego dele. Seria difícil para mim ter de encontrar o sujeito e lhe dizer tudo isso pessoalmente. Eu nem o conheço. Eu entrei nesse país e achei que estava fazendo uma coisa boa. Mas acabei entrando no fogo cruzado.
Você gostaria de deixar um recado para seus fãs brasileiros e dizer o que você gosta do Brasil?
Deixar um recado? Olha... Eu conheço os brasileiros porque eu surfo. Eu conheço muitos brasileiros, eles estão sempre na água comigo. Na primeira vez que eu vim ao Brasil, foi para surfar. Maresaras? [Maresias]. Eu fui até lá com um monte de surfistas. E nós nós divertimos muito. Foi muito louco. Muitos altos e baixos. Então, depois eu vim para cá me apresentar, e foi legal, mas sempre há controvérsia. Eu queria apenas me divertir sem tanta confusão. Ontem à noite, nosso site teve um problema. Duas milhões de pessoas estavam tentando entrar para comprar ingresso para o festival. E aí, mais gente começou a me mandar mensagens no Twitter, tão bravos... Dizendo: 'você sabe o que está fazendo? você não sabe nada!'. Os sites estavam funcionando, mas ninguém previu que dois milhões de pessoas iam tentar entrar no site, porque eles estavam tentando usar códigos de outras pessoas. Eu venho aqui de bom humor e agora minha cabeça está girando. Eu vim para cá mesmo sendo Dia de Ação de Graças nos EUA, eu realmente queria estar aqui para o anúncio do line-up, e agora eu sinto como... como se eu quisesse morrer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário