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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Lollapalooza: nós não vamos pagar nada?

O texto representa a opinião do autor.

Há cerca de um mês, no auge da minha euforia pelo SWU, comecei a ver boatos sobre a vinda do tradicional festival para terras tupiniquins.
O primeiro line-up divulgado animou tanto quanto o do SWU, nele prometia-se KINGS OF LEON, INCUBUS, STROKES e FOO FIGHTERS no mesmo dia!
Mas peraí... Esse festival tem fama de ser uma coisa mais “alternativa”, então logo surgiu uma desconfiança que se confirmou quando foi publicado o verdadeiro line-up... Como de costume, um monte de bandas “desconhecidas” e um arrasa-quarteirão pra fechar o espetáculo e no meio, até uma surpreendente JOAN JETT, que é sempre muito boa e muito bem-vinda!
O primeiro desapontamento surgiu ao saber os valores do festival: abusivos R$500,00 (super alternativo, não?). Já não é surpresa pra ninguém que shows no Brasil são cada vez mais absurdamente caros e nós, como bons anfitriões, nunca deixamos de pagar o preço que o gringo quiser, sendo a maior prova disso em 2011 o espetáculo “The Wall” (2012), que até me dá muita vontade de ver, afinal sou fã do Rogers Waters, mas não por astronômicos R$900,00.
Nosso querido país entrou de vez na rota de grandes shows gringos. Óbvio, se você tivesse um bom público, que pagasse o valor que fosse proposto, não reclamasse de atrasos e te aplaudisse no fim do espetáculo (não é mesmo, SR. AXL ROSE?) e mais um monte de regalias, acredite em mim, também não sairia daqui
Os mais inocentes acreditam que o público brasileiro é tão acolhedor que os gringos vão e voltam por pura simpatia, pra tomar caipirinhas e dançar samba. Para esses, fica a minha admiração pelo otimismo.
Num ano que contou com a volta do bombado Rock in Rio e com a segunda (e bem melhor) edição do SWU, Lollapalooza tinha uma grande responsabilidade de agradar, certo?
Errado.
O que o questionável Perry Farrell percebeu foi uma forma de fugir da crise de seu paísnatal e vir lucrar aqui. Com todos os defeitos que as pessoas adoram apontar nos norte-americanos, é inegável o fato que eles possuem um nível de interesse em questões econômicas que não vemos por aqui, então pergunto: qual o americano que na situação atual estaria disposto a pagar essa grana em um show?
Se Farrell fosse um sujeito tão consciente como ele alega ser, teria procurado se informarmais sobre onde pretende aterrissar com sua bandinha mediana (pra não dizer medíocre).
Primeiro, que saberia sobre a confusão do sumido Peter Gabriel com o Ultraje a Rigor (dá-lhe Roger!) e, portanto, pensaria duas vezes antes de chegar chutando a porta do barraco.
Segundo, não sei quanto à educação que corre por aí, mas eu sempre fui ensinada que quando se chega num lugar que nunca se foi e não se tem “intimidade” com os donos, você deve chegar de mansinho e respeitando sempre o anfitrião, afinal, você é visita. Se me portasse mal na casa alheia, era surra na certa. Beijo, mãe, que me educou muito bem!
Contrário a essas premissas, o frontman da justamente esquecida JANE'S ADDICTION resolveu chegar cheio de marra e comprar briga com um dos músicos mais inteligentes do país. Seguindo a mesma linha correta de pensamento de Roger, Lobão não aceitou ser menosprezado dentro da sua casa e mostrou toda a sua revolta e, ao contrário de artistas que aceitam qualquer coisa pra falar que tocaram junto com um gringo, Lobão colocou Farrell no lugar dele e francamente, fiquei decepcionada pela falta de apoio ao músico.
Aliás, a réplica só abriu uma brecha para Farrell demonstrar toda sua ignorância com pérolas como: “Estou aprendendo sobre os brasileiros agora, assim como vocês estão aprendendo agora sobre as bandas internacionais”. “Aqui não há tanta educação musical. Espero que o Lollapalooza traga essa cultura de festivais e shows internacionais para a América Latina. Ops, para o Brasil.”
(Sobre Lobão) “Vou dar um conselho a ele: grave um disco muito bom, um que todo mundo ame, e faça as pessoas quererem vê-lo ao vivo. Então, ele poderá ser headliner de um festival.”
Com isso, preciso acrescentar mais alguma coisa? Preciso. Não sou uma pessoa que possa ser chamada de nacionalista e cheguei até a falar para amigos que tinha muita banda nacional, que figura direto em casa de shows paulistanas a R$30,00 no line-up e o preço não se justificava. E apoio isso ainda. Os artistas brazucas (salvo medalhões à la Roberto Carlos) não enfiam o pé na jaca com seus ingressos. Principalmente bandas do bom rock nacional, como Plebe Rude, Velhas Virgens, etc... Mas, como ir a um evento que começa dessa forma e é conduzido por um ser como Perry Farrell?
Não sou nacionalista, sou apenas consciente. Minha consciência não me permite desembolsar R$250,00 (pagando meia) para os bolsos desse panaca. E sou fã de Foo Fighters. Espero há muito tempo uma visita deles por aqui. Mas mesmo assim, não vale a pena.
Sou uma entusiasta da música. Não consigo passar um dia sequer sem ouvir nenhuma. Falo sobre música todos os dias. Leio sobre, penso sobre, sonho sobre... I know it's only rock 'n' roll but I like it é o que melhor expressa meu sentimento com a música. E nada nesse mundo me enfia na cabeça que esse festival vem com o objetivo musical pra cá. Farrell quer lucrar nas costas dos desafortunados brasileiros. Não ia dar grana nenhuma esse ano lá então, vamos pro Brasil, onde tudo é festa! E o pior é que ele vai conseguir. Desafio qualquer um chegar com essa marra no todo-poderoso e prepotente EUA. Depois, me contem se conseguiram. Artistas muito MELHORES e mais GENIAIS que o simples e sem graça JANE'S ADDICTION demonstram muito mais humildade (até Sir Paul McCartney), mas o melhor exemplo que me vem na cabeça é o do endiabrado Mike Patton.
Mas, como já dizia Raul: “vamos embora, dar lugar pros gringo entrar, porque esse imóvel tá pra alugar”
Camila


Por Camila Fernanda

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